Microtetos™ sobre propósito

Luciano Braga
6 min readMar 25, 2018

Faz uns 6 ou 7 anos que a palavra propósito me atingiu pela primeira vez. Ela chegou chegando, me fazendo questionar tudo que eu fazia e me levando para um caminho de mais coerência, plenitude e certezas.

De lá pra cá, a palavra cresceu e chegou em muito mais gente. 7 anos atrás ela ainda era uma palavra underground. Pelo menos pra mim. Não lembro como fui apresentado pra ela, mas sei que não era uma parada que todo mundo sabia e só eu que não. Era algo bem lado B. Eram pouquíssimas as pessoas ao meu redor buscando trabalhar com propósito.

Hoje ela parece estar mais enturmada. Tem muito mais gente que a conhece e que busca ela a todo custo. Muito mais gente moldando suas escolhas pessoais com base no seu propósito, assim como muito mais gente ansiosa por não saber o seu.

Se por um lado ela ficou mainstream na sociedade, pessoalmente eu parei um pouco de dar bola pra ela. Eu meio que sabia meu propósito de cabeça e já estava doutrinado a segui-lo. Se antes eu ficava tentando escrever em uma frase o meu “propósito ideal”, ultimamente isso nem passava mais pela minha cabeça.

Só que esses dias, voltou a passar.

Uma amiga minha (Fran ❤) me perguntou se eu tinha um e qual era. Comecei a responder cheio de convicção que tinha e sabia e tal e quando fui falar qual era, percebi que eu não sabia. Na real eu sabia, eu só não tinha ele escrito na minha cabeça. E quando parei para cavocar meu inconsciente em busca da frase que eu achava que estava lá, notei que não estava.

“Eu não sei a frase, mas eu sei qual é”, foi minha resposta.

Isso me deixou pensativo. Antes eu sabia meus propósitos em frases bem definidas. Quando era piá, meu propósito era “fazer coisas que mereceriam ganhar um prêmio nobel da Paz” (hahahaha). Depois eu fiquei mais “humilde” e criei o objetivo de “criar coisas que renderiam uma palestra num TEDx”. Depois veio “fazer coisas que explorem minha criatividade” e aquela que hoje está no meu site: criar projetos que deixem o mundo mais divertido, criativo e apaixonante. E talvez tenham tidos outros entre esses, mas não lembro agora.

Agora não. Eu sinto que sei porque faço tudo que faço, mas não sei exatamente definir numa expressão. Quando chega um briefing novo, quando alguém me faz uma proposta, quando aparece uma nova oportunidade no meu caminho, eu sei quando dizer “sim” ou “não”. Eu sei o que vai estar alinhado com meu propósito de vida e o que não vai estar. Eu meio que sei porque eu saio da cama todo dia.

E isso porque hoje eu me conheço muito melhor do que me conhecia 10, 15, 20 anos atrás. Sei das minhas habilidades, das coisas que gosto de fazer, daquilo que me traz satisfação e me recompensa, daquilo que me faz sentir vivo. Se sei tudo isso hoje, é porque criei condições para isso acontecer no passado.

Um propósito te ajuda a caminhar. E ao caminhar, você se conhece, autoconhecimento esse que traz definições, certezas e verdades sobre você. Ao ver essas verdades, suas ações se alinham a elas. Ao agir com base nessas verdades, você se conhecia mais, e daí um novo propósito surgia, o que fazia suas novas ações seguir esse novo caminho.

Ação gera autoconhecimento. Autoconhecimento gera definições. Definições geram ações, que geram autoconhecimento, e por aí vai. Essas definições/verdades/certezas podem ser traduzidos como propósito. Ou seja: agimos, aprendemos com isso, definimos um novo norte com base nesses aprendizados, seguimos em frente.

De tanto realizar esse processo, hoje aquilo que quero pra minha vida já está escrito em mim, sem eu precisar ter uma frase definida. Talvez mude amanhã, mas acho que não vai ir para um caminho mega mega mega diferente daquele que já estou trilhando.

Desse blablabla todo, algumas conclusões: 1) propósito gera autoconhecimento; 2) propósitos mudam porque você muda; 3) eles não precisam estar escritos numa frase bonitinha; 4) propósitos nascem da ação, e não e ficar vendo todas as séries novas que surgem no Netflix.

Mas daí surge a dúvida: se para o propósito nascer, precisamos de ação, como definimos nosso “primeiro” propósito?

Em setembro do ano passado eu fui mentor de uma banca de um curso de empreendedorismo junto com dois amigos (❤ Larusso e Gabi Guerra ❤), e nossa função era dar opiniões sobre projetos dos alunos. Os alunos apresentavam suas ideias de projetos/empresas/whatever e a gente dava nossos palpites sobre eles.

Certa hora alguém apresentou um projeto bem massa, e ao final dele, disse que não sabia se fazia o projeto ou não, por não saber se ele se encaixava no seu propósito. O rapaz explicou que ainda estava atrás de um propósito, e não queria tocar o projeto antes de descobrir, para caso o projeto não se encaixasse nele depois. Essa era a maior dúvida dele. O que mais o travava. Ele tinha uma ideia massa, mas estava com medo e sem propósito.

Perguntei qual era a idade dele, e ele falou algo como 20 ou 21. Eu ri e falei “Sério? Então foda-se o propósito, faz e vê no que dá. Tu é muito jovem para só agir com base nele”. Todo mundo meio que faz cara de surpresa, como se propósito fosse a coisa mais essencial para todo mundo, e até pensei que eu devia ter falado uma bobagem. “Será que ele não precisa mesmo?”

Como o tempo para cada aluno apresentar era curto, não lembro de ter conseguido me explicar pra toda a turma sobre minha opinião. Pra mim é óbvio que propósito é ótimo, nos ajuda com nossas escolhas e dá um norte pra vida. Mas ou você faz algo que te leve ao seu encontro — crie projetos, ache um emprego massa, conheça novas pessoas -, ou vai se conhecer para saber quais próximos passos, como fazer um mapa astral ou começar uma terapia. Só não dá pra ficar parado esperando ele chegar até você. Esperar ele para começar a agir é contra-intuitivo.

O Larusso já listou aqui algumas maneiras para pessoas encontrarem o seu e você pode ler depois. Se você está perdido ou quer definir melhor seu norte, essa lista pode te ajudar.

Qual o meu propósito hoje? Ainda não sei colocar ele em uma frase, mas é algo como buscar evoluir como pessoa. Não no sentido profissional, adquirindo mais ferramentas e habilidades, mas sim num sentido mais amplo. Conhecer melhor meus sentimentos, conhecer melhor meu corpo, entender melhor como as pessoas se relacionam e como minhas ações impactam nesses relacionamentos, ficar mais perto da família, criar laços mais fortes com meus amigos, e por aí vai. E nessa caminhada também está incluído melhorar profissionalmente, através de estudos.

E acredito que toda essa busca recente está conectada ao meus propósitos iniciais. Mas ao invés de tentar resolver a paz mundial, quero resolver ela internamente. E ao estar em paz, levo ela para o meu entorno.

Na Ilha de Okinawa, no Japão, existe uma comunidade pescadora composta de pessoas simples que possuem uma das maiores taxas de longevidade do mundo. A galera lá passa dos 100 fácil, não num asilo definhando em suas camas, e sim em atividade, trabalhando para ajudar a comunidade até morrerem dormindo e felizes. Numa pesquisa realizada para descobrir os motivos dessa longevidade toda, descobriu-se que um dos motivos é que eles possuem, em sua grande maioria, um propósito. Eles chamam de Ikigai, “o motivo pelo qual você acorda todas as manhãs”.

Essa força, por alguma explicação, faz os habitantes desse povoado acordarem mais dispostos, mais felizes, com um maior senso de pertencimento dentro da comunidade, o que leva a viver mais anos. Uma velhinha de 94 anos tem como Ikigai cuidar da sua tataraneta, enquanto outro de 94, pescar para a comunidade. Isso os mantêm ativos, os mantêm vivos.

O Ikigai deles certamente mudou ao longo do tempo, eles certamente não sabiam qual era desde cedo, e certamente a vida deles é bem mais simples que a nossa, que nos cercamos de prédios e barulhos e dúvidas e redes sociais. Mesmo assim, é um grande aprendizado: fazer as coisas com um propósito, um motivo, e não só passar os dias de forma reativa.

Propósito é um assunto difícil, poderia escrever por mais 3 dias aqui e mesmo assim ia ser meio subjetivo ou superficial, mas é uma conversa legal de se ter e mesmo não sendo perfeita, vale. E esses eram os microtetos™ que queria trazer para vocês.

love you ❤

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Luciano Braga

devaneios pessoais e crônicas da vida moderna. palestrante e autor dos livros #PoderDoTempoLivre #333Páginas e #ESeFosseDiferente? >>> lucianobraga.cc