21 outras lições para o século XXI

Luciano Braga
16 min readNov 2, 2019
“Quem esse guri pensa que é pra imitar o meu conceito?”

Sim, eu sei que não sou o Yuval Harari e ainda não tenho currículo e influência suficiente para dar uma cagada de regra para toda a humanidade sobre como cada um deve viver sua vida. Pra quem não associou nome à pessoa, Yuval é o carinha que escreveu Sapiens, Homo Deus e, mais recentemente, “21 lições para o século XXI”.) Só que eu não tô nem aí para o fato de eu não ser ele. Eu sou eu e isso já basta. Se você já viveu um tempinho nesse mundo, você já tem algo pra ensinar. E eu já vivi vários tempinhos kkkk

Vou escrever um best-seller e viajar o mundo falando sobre isso como o Yuval? Obviamente que não, porque né, não tenho o currículo e a relevância dele, e nem de outras pessoas que também têm lições para dar. Mas nada disso me impede de compartilhar aquilo que eu acho que pode ser interessante para alguém.

Nos últimos anos tenho percebido, refletido e anotado (embora nem sempre compartilhado) algumas ideias sobre a vida. Essas ideias estavam na minha cabeça, em anotações pessoais e em alguns posts pela internet. Às vezes profundas, às vezes só em forma de insight.

Decidi olhar para elas e compilar tudo, e o que saiu disso foram 21 tópicos. Enquanto o Yuval dissertou sobre 21 pontos mais “globais”, que falam mais sobre a sociedade como um todo, ou seja, dicas mais gerais sobre o mundo, eu decidi por uma abordagem mais individual/pessoal.

São lições que falam mais sobre nossas vidas pessoais e trabalho, ao invés de falar de transformações culturais e sociais. Bem, pelo menos é isso que eu imagino. Talvez vocês não enxerguem assim. Sei lá. O que é certo é que são 21 outras dicas diferentes das do livro do Yuval :)

1. Ninguém sabe o que está fazendo
Nesse mundo maluco que vivemos, com profissões e ferramentas novas surgindo todos os dias, é muito difícil que a gente realmente sabia, na maior parte do tempo, o que estamos fazendo. Não tem como. Não tem como acompanhar tudo que surge, assim como o que surge é muito novo para conseguirmos ter total noção de como funciona.

Ao mesmo tempo, nossas vidas são tão complexas, tortuosas e específicas, que é praticamente impossível saber o que fazer em cada momento dela. Mesmo pessoas mais experientes dificilmente sabem nos ajudar, pois não passaram nem perto pelo que passamos.

Ainda assim, a cada ano que passa, pensamos: “quando eu tiver 25 anos, eu vou saber das coisas”, “quando eu tiver 30, aaaah quando eu tiver 30”, “os 35 que me aguardem!”. Mas não, continuamos trabalhando abraçados na insegurança e com um boné transparente escrito “Síndrome do impostor” na nossa cabeça. Até temos algumas certezas, mas grande parte ainda é uma grande aposta. Feeling, intuição, achismo. Até servem, mas passamos longe dos 100% de certeza.

Logo, se ninguém sabe de nada, por que se preocupar tanto em acertar tudo?

“The universe is change, life is an opinion.” — Marco Aurélio

2. Não dá pra ficar disponível o tempo todo
Desde o dia em que todos os aplicativos do nosso celular passaram a ser uma ferramenta de troca de mensagens com outras pessoas (até o YouTube tem um messenger, sabia?), instantaneamente perdemos a capacidade de ficarmos indisponíveis para as outras pessoas. Isso porque as mensagens começam a chegar, e a gente as responde, só que daí chegam mais, e a gente continua respondendo. É um vórtice infinito de enviar e responder. E depois que estamos no meio desse círculo vicioso, não dá mais pra sair. Ficamos disponíveis o tempo todo.

Na fila do banco, no banheiro, enquanto cozinhamos, enquanto trabalhamos, lendo, vendo TV. Fazemos essas coisas ENQUANTO estamos disponíveis e em contato com as pessoas. Não sou o chato velho aqui que vai dizer para a gente voltar a ter só o telefone fixo e jogar fora esses aplicativos. Só gostaria de apontar que, se estamos disponíveis o tempo todo, acabamos não ficando disponíveis para nós mesmos. Se em todo nosso tempo livre a gente está respondendo e dando atenção para outra pessoa, acabamos não escutando o que nós estamos falando.

Nossas vivências precisam de tempo ocioso para virar experiências e aprendizados. É no “fazer nada” que nosso cérebro se reorganiza e conecta informações, fazendo nascerem ideias, insights, estalos, momentos Eureka que são importantes pra nossa vida. É quando a gente se escuta que podemos tomar decisões melhores. Pare de levar o celular para o banheiro e para a cama. Permita-se ficar disponível para você.

“Sucesso é poder parar.” — Fabrício Carpinejar

3. Você nunca sabe o que a outra pessoa está passando
A gente nunca nunca nunca nuuuunca sabe o que outra pessoa está passando. Mesmo conhecendo muito bem ela. O modo padrão é tomar como certo que as pessoas estão bem. Se a superfície é calma, nosso cérebro compra isso facilmente e acaba tomando decisões com base nisso. Por isso xingamos desconhecidos no trânsito, somos rudes com um funcionários de um banco, passamos batido por uma fala de um colega de trabalho. “Essa pessoa fez isso pra me incomodar, só pode!”

Imaginar que as outras pessoas estão passando por momentos mais difíceis que o meu é um exercício que costumo fazer que me ajuda a ser mais compassivo e empático. Aprendi essa importante lição na época que eu tive câncer. Lembro de chegar em lugares onde ninguém tinha essa informação e ficar pensando comigo mesmo: “que louco, ninguém aqui sabe da minha doença. A maior treta da minha vida tá rolando e é só eu estar sorrindo e normal que ninguém jamais vai perceber” (na época eu ainda tinha cabelo, o que facilitava meu “disfarce”).

Se alguém fosse rude comigo nessa época, eu poderia estourar ou fazer algo que a pessoa jamais teria entendido de onde veio. Felizmente isso não aconteceu. Era muito bom ser bem tratado mesmo que as pessoas não soubessem do fato. Eu não estava bem, mas uma conversa legal me ajudava a ficar melhor. Trate bem as pessoas :)

4. Nosso corpo é uma treta e sempre será
Eu sempre fiquei incomodado quando meu corpo não correspondia às minhas expectativas. Cada nova doencinha que aparecia, eu bufava. “Droga de corpo idiota, porque você não pode ser normal como os outros?” Sentia que cada novo problema dele era um desvio de rota, uma anomalia. Meu corpo tinha um normal, e o normal era um corpo sem asma, sem tendinite, sem cárie, sem câncer, sem fascite plantar, sem gripe, sem rinite, e por aí vai. Ledo engano.

Não existe o “corpo normal”. Não existe uma fôrma. O nosso corpo é um laboratório. Uma junção de mutações aleatórias que, ao longo de muito tempo, nos trouxeram até o que somos hoje. Mas o processo não parou, tampouco é perfeito. Estamos em constante construção, colocando ele em situações que os genes não previram, e vendo o que sai disso. Um tênis de corrida, o ar que respiramos, a comida, exercícios que fazemos, trabalhar o dia todo numa cadeira. Isso tudo afeta um corpo que já está em transformação, causando ainda mais transformações.

Obviamente que trabalho para não ter doenças, mas entender que essa massa de células é um experimento com muitas variáveis me deixou mais tranquilo cada vez que uma aparece. Faz parte. Como posso me esforçar pra essas transformações não serem tão negativas?

5. Terapia é vida
Terapia não é coisa de gente louca. Não é coisa de quem não é forte o suficiente para aguentar algo. Não é coisa só de quem sofreu um trauma de infância. Não é “frescura”. Terapia é uma ferramenta de autoconhecimento. E autoconhecimento é bom pra todo mundo. Não conheço nenhuma história de alguém que conheceu mais sobre si mesmo e isso foi algo negativo.

Infelizmente, por preconceito da sociedade, a terapia virou sinônimo de vergonha, de “ultima tentativa”, afastando muita gente de um empurrãozinho super necessário. Por muito tempo achei que terapia não era pra mim. Achando que era perfeito, que qualquer problema eu tinha que resolver sozinho, como pessoas bem resolvidas fazem. Felizmente eu vi que estava enganado e essa foi a melhor mudança de opinião que já tive na vida.

Por mais de boas que seja sua vida, considere fazer terapia, nem que seja para descobrir que está tudo de boas mesmo.

“Sanity is a full time job.” — Sanity, Bad religion

6. A gente pode mudar de opinião, e tá tudo bem
Falando em mudança de opinião, outra dica boa que aprendi nesses últimos anos é que feliz é aquela pessoa que se permite mudar de opinião sobre determinado assunto. Vivemos num sistema complexo repleto de sistemas complexos dentro dele. São muitas as variáveis, muitas as incertezas e infinitas mudanças que acontecem a todo momento, nas mais variadas áreas da vida. Se manter preso a ideias e se abraçar nelas de forma cega e definitiva é ficar ultrapassado rapidamente.

“Braga, isso não é incoerência?” Ao meu ver não. Ou talvez seja. Ou melhor, talvez essa palavra não se encaixe nessa discussão. Não é sobre incoerência ou coerência, é sobre estar aberto a novas visões e caminhos. Se não podemos mudar de opinião e rever nossos conceitos, como vamos evoluir como pessoa? Como podemos dizer que estudamos algo? Pra que serve ler um livro? Prefiro que me chamem de incoerente do que de obsoleto.

7. Sentimentos dizem muito sobre a gente
Sentimentos, além de serem sentidos, também devem ser observados. O nosso natural não é isso. Nosso estado natural é sentir algo e reagir instantaneamente, deixando que sentimento mande na gente e nas nossas ações. Parar para olhar para o sentimento, antes de agir, nos traz respostas e insights interessantíssimos sobre nós mesmos.

É importante ter noção também que nós temos mais que 5 sentimentos (ver gráfico abaixo). Quando sabemos disso, fica mais fácil identificar o que estamos sentindo e de onde isso pode estar vindo.

Wheel of emotions.

Na próxima vez que sentir algo mais forte, pare e se pergunte: Por que estou sentido isso? Quando foi a última vez que eu havia sentido isso? O que será que isso quer dizer?

8. As pessoas admiram quem tem coragem
Deixamos de fazer muitas coisas por medo do que alguma pessoa pode pensar. Postar uma foto, escrever um texto, começar um blog, ter um projeto pessoal, vestir-se de um determinado jeito. Criamos na nossa cabeça um cenário onde o resto do mundo está nos observando constantemente, apenas esperando um motivo para sair nos criticando.

Quando essa suposição é forte demais, ela pode nos travar e permitir que ideias e ações simplesmente caiam no limbo. Ficamos tão preocupados com o que os outros vão pensar que não fazemos aquilo que queremos.

Nos últimos anos eu aprendi que ninguém está pensando tanto em mim assim. Ninguém está nem aí. As pessoas geralmente estão mais preocupadas com elas mesmas, com o que elas estão fazendo, com o que as outras pessoas estão pensando delas (somos todos iguais, não?). Logo, quando você faz algo, as outras pessoas reconhecem a sua coragem de ter enfrentado essa barreira invisível e te admiram. Pode parecer loucura minha, mas é real.

Os haters existem? Claro. Mas são a minoria. A maioria torce por você e vai comemorar junto as tuas conquistas, pode contar com isso.

9. As coisas ao seu redor moldam sua forma de pensar
Acredito muito que aquilo que a gente consome e usufrui molda a forma que a gente pensa. E falo isso sem nenhum embasamento científico. Puro achismo (talvez existam estudos que comprovem, mas eu não sei). Livros que lemos, séries e filmes que assistimos, pessoas que nos cercam, a cultura da sociedade ao nosso redor, professoras, mestres, pais, mães, pessoas que seguimos, meio que tudo ao nosso redor ajuda a moldar um pouquinho a forma como pensamos.

Se nos cercamos de livros com conteúdo positivo, histórias de superação e de esperança, é provável que nos sintamos mais empoderados e tenhamos maior fé nas pessoas do que se apenas consumirmos histórias de tristeza e descrédito, por exemplo. Até é possível ter atitudes bem diferentes do que o ambiente que nos cerca, mas para isso é necessária muita dedicação e perseverança.

“Nós somos aquilo que comemos, e qualquer objeto de atenção torna-se um tipo de alimento.” — Charles Eisenstein

10. Tudo que a gente cria, cria o mundo de volta
O contrário também é verdadeiro. Tudo que jogamos para o ambiente ao nosso redor acaba por moldar ele também. Se jogamos muito ciúmes em um relacionamento, é provável que ele seja baseado em desconfianças e insegurança. Se jogamos segurança e abertura para uma amizade, estamos dando espaço para uma relação mais confiável.

Essa premissa serve para nosso trabalho, para nossa família, para nossas paixões. Devemos agir sempre com base naquele mundo que queremos que exista, e deixar que ele faça sua parte se adequando a isso. É o famoso “toda ação gera uma reação”. Qual tipo de reação você quer?

11. O caminho natural da vida é a desordem
A vida que criamos para nossa sociedade está estabelecida em fundações mega frágeis. Seja o encanamento da nossa casa, seja o prego que prende o quadro na parede, seja a comida que temos na geladeira, sejam os relacionamentos que cultivamos. Essas coisas, se não forem nutridas/revisadas/mantidas/reparadas, tendem a ruir.

Não coma a comida por uma semana e ela estraga. Não fale com suas amigas por um bom tempo e elas vão ficar chateadas. Não cuide da sua saúde e veja seu corpo adoecer, não limpe a casa e colecione baratas. Tudo tende a dar problema. Viver é fazer malabarismos com tudo que pode dar errado. Um dia normal é um dia que não derrubamos nada, mas isso não significa que as coisas não estejam perigosamente voando de uma mão para outra.

Perceber isso me fez ser mais esforçado em algumas questões, além de permitir que eu não ficasse tão bravo quando um cano estourasse.

“Entropy will always increase on its own. The only way to make things orderly again is to add energy. Order requires effort.” — James Clear

12. A gente vai morrer um dia
Todas as pessoas vão morrer. E todas elas sabem disso (ou deveriam saber). Logo, cada escolha que fazemos nas nossas vidas, está casada com a frase “sabendo que vai morrer”. Sabendo que vou morrer, decidi ficar o dia todo maratonando uma série. Sabendo que vou morrer, decidi trabalhar o dia todo sem parar pra comer. Sabendo que vou morrer, decidi economizar todo meu dinheiro para fazer a viagem que sempre quis. Sabendo que vou morrer, deixei o sono de lado e fiquei tendo uma conversa interessante com a pessoa que eu amo.

Viver só por viver é desrespeitar a morte e sua capacidade de atrapalhar nossos planos. Por isso, vamos olhar para ela e usá-la como fonte de inspiração e motivação. E entregar para ela nossa melhor versão.

“Aquele que vai morrer, está aqui jantando com os filhos.” — Gonçalo Tavares, escritor português

13. Responder é melhor que reagir
Essa é uma das manhas que nos ajudam a quebrar a Matrix quando começamos a colocar em prática. Não sei se é culpa do nosso cérebro reptiliano, nem se é da educação que essa sociedade nos dá, mas a gente é muito mais propício a reagir de bate-pronto a algo que acontece à gente do que parar e responder da forma que a situação merece.

Reagir é agir no impulso, sem pensar muito e ainda no calor da emoção. Como é um comportamento rápido, ele não possui todas as informações necessárias para seu funcionamento, logo, é provável que não seja a melhor saída. Já a outra maneira, a resposta, vem acompanhada de observação, consideração e escolha da melhor cartada. Pode nos poupar de problemas quando usado de forma certa.

14. Cuidado com os ladrões de tempo
Tempo é a coisa mais valiosa que temos. Tempo não volta. Depois que usamos, já era. Pra sempre. Tem vezes que vamos usar ele em algo que lembraremos pra sempre, como uma viagem ou um aniversário de uma pessoa querida. Outras vezes vamos usar em coisas mais fugazes, como jogar videogame, por exemplo. E isso é ok. Impossível usar sempre nosso tempo para coisas incrivelmente importantes.

O cuidado que temos que ter é com aqueles ladrões de tempo. Pessoas egoístas, pessoas que só sabem falar delas mesmas, Netflix, redes sociais. Esses são exemplos de coisas que não vão querer apenas nossa atenção, mas sim fazer de tudo para você continuar preso, investindo seu tempo precioso por horas e horas sem perceber, até que seja tarde demais.

15. Nem tudo é problema seu
Isso aprendi com a filosofia estoica: tentar controlar apenas as minhas ações, fazer elas da melhor maneira possível e aceitar o que vier de resultado delas. Não temos controle sobre as coisas que fogem da nossa ação, e tentar controlá-las é uma passagem de ida para o mundo da ansiedade e da preocupação.

Eu não posso controlar como as pessoas vão reagir a algo que eu faço, não posso controlar quem é o prefeito da minha cidade, não posso controlar como as pessoas ao meu redor se sentem e tampouco posso controlar meu corpo, por melhor que eu o trate (já falamos sobre isso na lição 4). Tirando as minhas ações, o resto é com o universo.

E isso é o mais importante: as nossas ações. Fazer elas da forma certa. A partir do momento que eu sei que fiz o que deveria ser feito, que tentei o meu melhor, aceitar o resultado fica muito mais fácil.

“Das coisas existentes, algumas são encargos nossos, outras não.” — Epicteto

16. A vida é um jogo infinito
Existem dois tipos de jogos, finitos e infinitos. Jogos finitos são aqueles que existem regras e jogadores definidos, além de um final, onde alguém sai como vencedor. Vôlei, xadrez, concurso de quem come mais pizzas. Já os jogos infinitos são aqueles em que as regras não são claras e costumam mudar ao longo do jogo, assim como não existe final e tampouco vencedor. O objetivo é continuar jogando. Um relacionamento amoroso, por exemplo, é um jogo infinito.

Mesmo assim, muita gente vive a vida pensando em vencê-la. Existe simplesmente pela busca da vitória, a linha de chegada, o prêmio final. Essa forma de pensar abre espaço para táticas que super funcionam em jogos finitos: tomar decisões somente com benefício no curto prazo, faltar com ética e respeito, buscar vantagem apenas para si, enganar pessoas, não pensar no pós-jogo, fazer cera, esconder sua tática. E ninguém gosta de pessoas assim, né?

Quando sabemos que estamos num jogo cujo objetivo é manter-se jogando, começamos a pensar mais nas consequências dos nossos atos. E a agir com base na manutenção e andamento das coisas, como nutrir relacionamentos com base na reciprocidade e buscar soluções ganha-ganha nas nossas negociações.

“O trabalho não é um modo de chegar a um presente desejado e protegê-lo de um futuro imprevisível, e sim avançar em direção a um futuro que possui, por sua vez, um futuro.” — James Carse

17. Separar trabalho e vida pessoal é bom
Estamos passando por um processo de unificação da vida pessoal com a vida profissional. Depois de muitos anos separando de forma bem clara a hora do trabalho da hora de lazer, a humanidade se libertou de sedes e horários definidos e passou a adotar uma postura profissional mais flexível, embalada pelas tecnologias que surgiram. E se antes a gente definia a nós mesmos somente pelos cargos que ocupávamos, hoje temos orgulho de nos apresentar como seres mais profundos e plurais.

Corta a cena para o presente, onde estamos trabalhando O TEMPO TODO. Respondemos mensagens e emails em qualquer horário e dia da semana, estamos sempre cuidando da nossa imagem para passarmos “credibilidade”, tratamos nossas redes sociais como perfis corporativos. Ao quebrar a barreira que dividia nossa função no dia, ficamos sem referência e, na minha opinião, deixamos que o lado profissional invadisse sem escrúpulos a vida pessoal.

Qual é o equilíbrio? Não sei. Mas acho uma boa a gente buscar por ele.

18. Falar menos é escutar mais
Uma pessoa querida nos conta uma notícia ou história, e nós respondemos como? Com uma notícia ou história nossa. Esse é o nosso modo default. Temos o costume de, ao invés de perguntar e querer saber mais sobre o que a pessoa está falando, estragar a conversa ao fazer dela algo nosso também.

“Comprei um celular novo, olha!”, “que massa, eu também comprei um.” Chatíssimo isso, não? Se uma pessoa decidiu falar algo para você, é porque ela quer que esse seja o assunto. Se ele demorar 1 minuto, beleza, daí você pode falar o que você quiser, mas se a pessoa quer que dure mais, você tem que ser esse catalisador. Conversar não é ficar esperando a outra pessoa parar de falar para você falar algo sobre você. Conversar é abrir espaço para a outra pessoa trilhar um caminho.

“Ser espaço, e não parede.” — Carolina Nalon

19. Responsabilidade do privilégio
Sabem quantas pessoas têm a oportunidade de fazer uma faculdade? De ter acesso a livros e documentários sobre o mundo? De ir no cinema todo mês? De ter notícias do mundo todo na palma de sua mão? De poder ver referências no Pinterest antes de fazer um evento? De ter tempo para parar e discutir o sistema capitalista? De ter fontes de notícias que não sejam Globo e Record? De ler e compreender o que está lendo? De poder parar e ler textos no Medium de um guri qualquer?

Pouquíssimas. A maioria das pessoas do mundo ou não tem acesso a isso que citei acima, ou não se importam/não sabem como usá-las. Ao mesmo tempo, são privilégios que praticamente todo mundo que conheço tem. Estou falando de uma bolha pequeníssima dentro de um mar infinito, o que nos coloca numa posição de extremo privilégio.

O que fazemos com esse privilégio é nossa responsabilidade. Podemos apenas seguir nossas vidas contribuindo para que essa bolha permaneça como está, ou podemos usar esse privilégio para permitir que ele chegue a mais pessoas.

20. Escute a vozinha
A voz que hoje sabemos ser a “voz” da nossa consciência, os povos antigos acreditavam ser a voz de Deus. Eles a ouviam e não associavam ela a si mesmos, já que o entendimento de autopercepção não existia como conhecemos. Logo, achavam que era uma voz divina, e acabavam dando muita importância para ela.

Ao longo dos anos, essa voz perdeu importância na nossa sociedade. Vivemos numa sociedade pragmática, cercados de números, estatísticas, exemplos e informações para balizar nossas escolhas, o que fez diminuir a influência da nossa vozinha interna no nosso dia a dia. Começamos a chamar ela de intuição e a colocamos numa esfera mística, trazendo ainda menos peso para sua presença.

Mas ela está ali, e geralmente aparece para nos falar algo que não estamos afim de ouvir ou que não estamos percebendo. Escute-a. Se um ser divino parou para falar com a gente, deve ser importante.

21. Assuma a responsa de ser você
Ser um bom filho, ser uma boa cidadã, eleger políticos, ajudar o meio ambiente, ser coerente, ser presente, praticar a empatia no nosso dia a dia, escutar pessoas com atenção, separar o lixo, nutrir bons relacionamentos, se exercitar. Tudo isso é responsabilidade sua e somente sua. Ninguém vai te deixar em forma se você não fazer nada por isso. Ninguém vai te transformar num bom filho ou filhase você não trabalhar por isso.

Não existe isso de delegar para outras pessoas as escolhas que precisamos tomar diariamente. Se você não se importa com política e decide não participar desse processo, tudo bem, faz parte, você tem o seu direito. Mas isso não significa que quem foi eleito não tem o seu aval. Você decidiu se afastar, logo, o que acontece é responsabilidade sua também.

O mesmo acontece para a forma como lidamos com o lixo, com a insegurança, com o ambiente profissional, com as relações humanas que fazemos parte e por aí vai. Decida o que vai ser e arque com as consequências, não apontando o dedo para outras pessoas ou situações.

Ser você não é fácil, mas é responsabilidade totalmente sua :)

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Luciano Braga

devaneios pessoais e crônicas da vida moderna. palestrante e autor dos livros #PoderDoTempoLivre #333Páginas e #ESeFosseDiferente? >>> lucianobraga.cc